As placas de trânsito
[Crônica de 19 de setembro de 2002]
Quem passa pelas marginais deve ficar comovido: a CET está seriamente preocupada com os animais que moram na beira dos rios. E a melhor prova desta preocupação politicamente correta é o emprenho com que a sinalização informando que eles existem e cruzam as pistas tem sido feita.
“Cuidado, animais na pista”. É comovedor. “Cuidado, animais na pista”, chega a ser sublime e mostra uma faceta nova, uma preocupação com o meio ambiente, uma certeza de um futuro melhor absolutamente inacreditável num país onde as criancinhas ainda ficam nas ruas, mas os micos leões dourados são tratados a pão-de-ló e outras guloseimas que fazem os micos mais felizes e as criancinhas ficarem com inveja.
O único senão são as placas. Lindas, amarelas, com cara de primeiro mundo, são tão sofisticadas que chegam a comover e deixariam os desenhistas de Walt Disney sem graça, pelo porte e elegância do veado saltando, impresso nelas.
Eu tenho certeza de que todas as manhãs, quando os primeiros raios de sol iluminam as placas, realçando as linhas do cervídeo, as pistas sorriem em seus buracos sem dentes, alegres por terem placas tão deslumbrantes e que isto é bom para o humor do trânsito, porque alegres, elas ajudam os motoristas e desviarem de todos os tipos de obstáculos, incluídas as capivaras que, além de um ou outro cachorro magro, são os únicos animais ameaçados de atropelamento no pedaço.
Os cervos são tão harmoniosos, pintado em negro nas placas amarelas, que acho até que poderiam servir de parâmetro para outras placas a serem instaladas no resto do país.
Por exemplo, as placas de proibido pescar poderiam ter impressas baleias azuis, enquanto as de cuidado rio com piranha teriam orcas e as que avisam gado cruzando a pista, elefantes africanos, com as orelhas abertas.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.