Maio de 1968
[Crônica de 26 de maio de 1998]
Muito mais eu não sabia, exceto que de um lado estavam os comunistas e de outro os de direita – integrantes do CCC, que era o comando de caça aos comunistas – e que, dependendo de quem contava a estória, os mocinhos mudavam de lado, ora sendo os estudantes do Mackenzie, ora sendo os alunos da filosofia da USP.
Era um tempo em que o pau comia feio, e entre os alunos das duas faculdades teve alguns seriamente feridos, por conta de acreditarem que o mundo tinha jeito e de que era possível mudá-lo.
Era também um tempo de festas boas, e depois delas, era o tempo de sairmos pela noite, e entrar nos inferninhos da boca do luxo, na Major Sertório, com carteirinha falsificada e gorjeta para os porteiros que, é claro, acreditavam mais nas gorjetas do que nas datas de nascimento escritas nas carteirinhas.
Era cedo para um menino de 15 anos saber o que estava em jogo, mas também era hora de cabular aula para ver o que estava acontecendo na cidade.
Era cedo para saber que a vida pode ser mais dura do que ficar de segunda época e que tem gente que nunca ficou de segunda época porque nunca foi a escola.
Era cedo para se saber das esquinas do mundo…
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