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Potência imobiliária

De acordo com números recentemente publicados, São Paulo atingiu a marca de cem mil imóveis comercializados nos últimos doze meses. É número para ninguém colocar defeito e, ao mesmo tempo, que assusta.

Cem mil unidades imobiliárias quer dizer a capacidade de uma cidade com mais ou menos trezentos mil habitantes. Em outras palavras, para ficar mais claro, São Paulo, nos últimos doze meses, comercializou imóveis capazes de comportar a população de uma cidade do tamanho de Uberaba!

É muita coisa, mesmo para os padrões de uma megalópole que é uma das cinco maiores do mundo. Em algum lugar, isso vai dar problema. Seja porque é muita gente, seja porque é muito imóvel, seja porque uma parte grande dos imóveis anteriores simplesmente vai ficar vazio, com todos os custos sociais embutidos. 

Se, de um lado, o setor imobiliário dá mostras de um vigor impressionante, capaz de fazer a Caixa ficar preocupada com sua capacidade de suprir a demanda pelos financiamentos necessários para o pagamento destas compras, de outro, temos toda uma série de problemas que, mais na frente, cobrará seu preço.

Mais unidades imobiliárias quer dizer aumento da impermeabilização do solo. Em época de mudanças climáticas e catástrofes meteorológicas, não é um bom negócio aumentar a impermeabilização do solo, com todas as consequências dramáticas que mais água escorrendo pelas ruas trará para a cidade. 

Significa também o aumento do trânsito, com mais carros se concentrando nas mesmas vias, aumentando a poluição do ar e piorando a qualidade de vida da população. Já teve época em que São Paulo adorava dizer que era a cidade que mais crescia no mundo. O resultado não foi bom. Será que não aprendemos com o passado e vamos fazer tudo de novo?

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.