A volta do bonde
[Crônica de 7 de junho de 2002]
Eu sou velho, mas não tão velho assim, por isso me lembro dos bondes em São Paulo, mas não me lembro de mim dentro de um deles. A imagem mais clara que tenho daqueles estranhos veículos que andavam em cima de trilhos pelas avenidas da cidade é a dos bondes da avenida Paulista, perto do Colégio Dante Alighieri, onde eu estudava, na época, no primário.
Também me lembro deles na avenida Dr. Arnaldo e na avenida Angélica. Mas, curiosamente, não tenho qualquer lembrança dentro de um deles.
A lembrança que eu tenho desta época, é a dos ônibus elétricos, que eu minhas irmãs e primas pegávamos em Higienópolis, para ir ao cinema, com minha avó Sara.
Uma vez, quando nós descemos, ela esqueceu uma minha irmã dentro de um e foi por pouco que o ônibus não tocou em frente, levando-a para o ponto final da linha.
Agora, estão montando um plano para trazer os bondes de volta pra cidade. Acho uma ideia interessante, em primeiro lugar porque é uma forma de repor o centro velho, e tudo que lê tem de belo, de volta no mapa.
E, em segundo, porque passear de bonde, cruzando uma região como a que querem fazê-lo passar, vai ser uma oportunidade única de se conhecer uma parte da cidade que hoje pouca gente conhece, mas que é parte viva da história de São Paulo e que precisa ser resgatada.
Além disso, o bonde tem charme, tem graça e não polui. Quer dizer, sem ter a ilusão de que um dia São Paulo terá bondes como os das cidades alemãs, resgatar o bonde, ainda que para passeios turísticos, é uma ideia fantástica, para ajudar a recuperar a memória de uma cidade de quase 500 anos, que muito pouca gente conhece.
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