O quase parque
[Crônica de 11 de julho de 2000]
O parque Vila Lobos ameaça ser, mas ainda não é. Por enquanto ele é um quase parque, alguma coisa a caminho de ser um parque, mas que não chegou lá e ainda vai demorar para chegar.
Tem muito que precisa ser feito para tirar o ar de terreno baldio que toma boa parte da sua área. E não são só os fundões, os lugares em que ninguém vai ou que podem ficar abandonados, tomados pelo mato nativo que lhe daria um certo ar de parque beira rio, na medida que, pelo menos em teoria, deveria ser a mata ciliar do rio Pinheiros, mas que, na prática, ninguém sabe muito bem o que é.
É verdade que já tem alguns trechos que estão prontos, ou pelo menos quase prontos, com seu ar definitivo, mesmo com as árvores não tendo crescido o necessário e a gente poder apenas imaginar como vai ser quando elas crescerem e fecharem em bosques, provavelmente muito bonitos, com paineiras e guapuruvus e outras árvores brasileiras contrastando com as palmeiras que também crescem, espalhadas em sua área imensa.
O parque Vila \lobos tem uma área muito grande que, por ele não estar completamente pronto, não aparece tão grande assim. Muito dela não pode ser usada, porque está abandonada, tomada pelo capim alto ou sem caminhos que a cruze, permitindo que a gente chegue em vários cantos dela.
Além disso um bom pedaço do parque paga o tributo ao eterno e onipresente automóvel, o verdadeiro dono da cidade, que tem estacionamentos dentro, o que, se levando em conta a violência da cidade e as cercanias da zona, foi uma boa ideia, ainda que minimizando as áreas de lazer em prol da segurança.
Mesmo não estando pronto, o parque Vila Lobos recebe uma multidão todos os fins de semana. É gente que tem direito de reivindicar um espaço de lazer, uma outra opção além do Ibirapuera, e que se submete ao parque inacabado por falta de alternativa.
Em São Paulo, quem não tem parque inteiro, caça com meio parque.
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