Delfim Neto

Não fui amigo de Delfim Neto, mas sempre tivemos uma relação próxima e, ao longo das décadas, conversamos bastante sobre os mais diversos assuntos. Quer dizer, ele falava e eu ouvia. No máximo, perguntava alguma coisa, como no dia em que perguntei por que ele não divulgou a doação de sua biblioteca para a FEA, a Faculdade de Economia da USP. Afinal, sua biblioteca era muito maior do que a do José Mindlin, que era, com toda a razão, reverenciado pela doação feita à USP. Sua resposta foi típica: “Não era o caso, a biblioteca do Mindlin é uma preciosidade, a minha é só uma biblioteca de trabalho”. Detalhe: a biblioteca de Delfim Neto tinha dezenas e dezenas de milhares de livros, a maior parte com anotações dele.

Delfim Neto foi um dos homens mais inteligentes, cultos e preparados que eu conheci na vida. Além disso tinha uma rapidez de raciocínio e uma ironia que o faziam fascinante ou terrível, dependia do lado que você estava, se a favor ou contra.

Durante muitos anos, nos encontrávamos na hora do almoço no Restaurante Roma. Ele tinha uma mesa, onde almoçava com seus amigos, e eu era assíduo frequentador da cantina. 

Às vezes, só nos cumprimentávamos; outras, conversávamos, eu o chamando de ministro e ele me chamando de jornalista. Os olhos de Delfim Neto tinham um brilho especial, que aumentava quando ele brincava ou comentava sobre alguém.

Mas se tem algo que eu nunca vou esquecer e serei eternamente grato, foi sua ajuda constante, poderosa e sistemática à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.  Durante muitos anos, Delfim Neto foi membro da Mesa Administrativa da Irmandade. Quando, há alguns anos, ele adoeceu, eu telefonei e perguntei se ele queria sair. Sua resposta foi não. Delfim Neto morreu Irmão Mesário da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. 

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