A poesia da vida imitando a arte

[Crônica de 5 de novembro de 2001]

Às vezes, sem querer, a vida imita a arte e é belo ver o resultado. Outras a vida copia a arte, deliberadamente, por uma ação de vontade humana e é muito mais belo.

A vontade de fazer, de acertar, de recriar na vida a poesia da obra de arte, tem uma beleza única que é o grande diferencial entre o homem e os outros animais.

Poder deliberadamente criar algo de bom, algo de útil, não tem preço. Só a noite bem dormida, com a consciência tranquila, pode pagar o resultado, mas este é o preço de estarmos vivos e tentar, todos os dias, fazer hoje melhor do que ontem.

A decisão da direção do Poupatempo de criar a figura dos escrevinhadores de carta é poesia pura, é a vontade humana copiando a arte, para dar a quem precisa aquilo que necessita para ser um pouco mais feliz.

De repente “Central do Brasil” é muito mais do que um filme, é a realidade recriando uma tradição que estava morrendo e que por isso impedia que milhares e milhares de pessoas se comunicassem, deixando de mandar notícias, de dizer, “estou vivo, e bem!” ou, “socorro pelo amor de Deus, me tire daqui porque eu não aguento mais!”

De agora em diante estes cidadãos terão a possibilidade de enviar suas cartas, com a certeza da postagem, contando como estão, se estão bem, ou não. 

Mandando notícias para os que estão longe, preocupados com seu estado.

Poderão contar ao escrevinhador do Poupatempo suas venturas e desventuras, e as aventuras incríveis porque passaram nessa terra que não é sua, mas onde estão por obra e graça de Deus Nosso Senhor.

E os escrevinhadores se sentirão realizados, escutando e escrevendo histórias de gente simples, que, graças a eles, será o tema e a ventura dos que ficarem sabendo deles pelas cartas mandadas tão longe.
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