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A cultura vai de ônibus

[Crônica de 19 de setembro de 2003]

Pasme, eu tenho certeza de que você não sabe, mas em São Paulo, a cultura vai de ônibus. Pelo menos é o que está escrito atrás de vários ônibus que andam pela cidade e que convidam a população para viajar neles, porque é neles que é possível se ler um bom livro, enquanto se vai ou se volta de algum lugar.

Como na maior parte do tempo você fica parado, porque o trânsito não anda, até que a sugestão não é ruim. Pelo contrário é uma forma inteligente de se passar o tempo e, o que é mais importante, uma forma prazerosa, porque entre ficar parado olhando pela janela, sem nada para fazer, exceto ver o marronzinho mais próximo desesperado porque está tudo parado, e ler um bom livro, a segunda hipótese é muito melhor.

Por outro lado, na mediada que a cultura vai de ônibus, é de se admirar que ela tenha conseguido tanto, num lugar como São Paulo. 

Os ônibus não são famosos pela velocidade com que atravessam a cidade. Pelo contrário, atravancam o trânsito, se arrastando lentamente, quase sempre fora da faixa deles, como se as ruas e avenidas fossem suas e não tivesse mais ninguém andando por elas.

No seu passo de cágado fumegante, poluindo o ar e roncando como rinocerontes velhos, os coletivos paulistanos são uma amostra triste de tudo que é feito errado há séculos e que condena o Brasil ser o Brasil.

Deve ser por isso que as escolas públicas paulistas têm um desempenho tão ruim, estejam instaladas dentro de latas, estejam em prédios suntuosos.

Como a cultura vai de ônibus, seu passo é lento como o dos soldados que não querem avançar, como os retirantes fugindo da seca. 

Por isso a frase está certa, aqui, a cultura vai mesmo de ônibus.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.