Dia de sol

[Crônica de 22 de abril de 2005]

Nada é mais gostoso do que um dia de sol. Sentir o calor bater nas costas e espantar o arrepio que ainda insiste em ficar fazendo de conta que é inverno e está frio, como nas manhãs em que a bruma encobre o céu e a geada se espalha pela grama, protegida pela névoa escondendo o sol.

Depois do inverno vem a primavera, e o verão e o outono. Ou vinha, pelo menos com esta certeza. Atualmente, pode ser que venha, ou não. Cada dia é uma surpresa, aqui ou em qualquer outro lugar, até onde as estações eram suíças, e cumpriam seus horários com rigor de um cronômetro de precisão.

O mundo mudou. Sei lá se a culpa é do homem. Ele já mudou outras vezes, inclusive antes do homem existir. Portanto, dizer que fomos nós, pode ser paranoia da brava, sem sentido ou base fática, como dizer que se não fossem os tupis os bichos-preguiças gigantes ainda andariam pelos chãos do Brasil.

Hoje, a cada meia hora podemos ter um tempo diferente, com chuva, frio, sol e calor se sucedendo como os que correm atrás do Schumacher, disputando os eternos segundos e terceiros lugares nos grandes prêmios de fórmula 1. 

Mas quando o sol esquenta as costas e bate de frente nos olhos, a vida adquire um significado especial, um jeito de feriado, de surpresa boa, com gosto de torta de maça ou de sorvete de pistache.

Com ele o dia fica sempre mais bonito, mais amigo, mais gostoso. E com o dia melhor nosso humor fica mais manso, os ódios descem pela garganta e a raiva se esconde, dando lugar para a alegria que enfeita os olhos e faz tudo mais querido, como um abraço apertado.
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