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Os sabiás engoliram os pardais

Quando eu era criança, o dono dos céus da cidade de São Paulo era o pardal, ou melhor, milhares de pardais, que irritavam meu pai porque não eram aves nativas. Haviam sido trazidos de Portugal por um cidadão com nostalgia da terrinha.

Os pardais chegaram, voaram, entenderam o contexto e tomaram o Brasil de assalto, certos de que a vitória era deles. Afinal, não tínhamos milhafres para manter o equilíbrio ecológico e nossos gaviões tinham comida de sobra nas aves e ratos, velhos conhecidos.

Os pardais se tornaram marca registrada ao ponto de estarem nas letras de clássicos do samba, como Ave Maria no Morro, com “sinfonia de pardais anunciando o anoitecer…” 

Mas a vida segue em frente e deixa para trás quem não consegue vencer as dificuldades e barreiras do caminho, ou quem perde o caminho, tanto faz. O fato é que vão caindo e vão ficando, até serem esquecidos, como os pardais que não voam mais nos céus de São Paulo.

O céu paulistano tem outros donos, começando pelos bandos de periquitos de todos os tipos, esses essencialmente brasileiros, e os pombos, que se espalham como os pardais fizeram no passado, sem inimigos naturais, na cidade ou nos campos.

Tem pombo para todos os lados, praças, telhados, quintais, calçadas etc. Pousam onde querem como se sua presença fosse a certeza da paz, da calma bucólica que até 1870 embalava os paulistanos em suas casas de paredes de taipa, mais ou menos a salvo de grandes aventuras.

Mas, além dos pombos e dos periquitos, São Paulo se tornou a terra dos sabiás. Eles são muitos e cantam de dia e de noite, incansáveis, numa festa que tem quem goste e quem não goste, mas que é mais bonita e mais melódica que a gritaria dos pardais.  

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.