É quase férias

É quase férias, ou melhor, o Natal já passou e o trânsito melhorou. Em São Paulo isso é muito! A tendência não é o trânsito melhorar, ao contrário, todos os indicadores apontam que vai piorar. Vai piorar com a mesma certeza que o sertanejo tem quando persegue um boi fujão no meio da caatinga.

Vai piorar porque simplesmente não cabem dez milhões de carros na cidade. Tem mais carro do que rua e o ritmo da expansão dos carros é muito mais rápido do que o das ruas.

Não adianta dizer que em algum momento vai dar besteira. Já deu! É olhar a violência que corre solta enquanto carros, motos, bicicletas e pedestres brigam pelo pouco espaço livre. É bruto demais. Sair tiro nesse universo é fácil. “Em nome de Deus e da família eu encho seu bucho de balas.” “Em nome da falta de Deus e da família eu encho seu bucho balas.” A favor e contra, as pessoas se matam regularmente, como se tivessem um encontro marcado com a morte ou um pacto com o Diabo, a qualquer hora do dia, em qualquer lugar da cidade.

Antes era cedo, agora é tarde. A bala perdida partiu e encontrou alguém no meio do caminho. Matou? Não matou? Não tanto faz, a barbaridade é absurda. Ninguém tem que tomar tiro por causa da briga do outro.

Mas agora é quase férias. A cidade já está mais vazia, a ansiedade do Natal perdeu o pique, as pessoas respiram mais soltas, imaginando tudo de bom e gostoso que farão durante as férias.

Neste momento você não lembra que as estradas estarão lotadas, que tem grande chance de faltar água, que terá muita gente em volta. Não, agora é a hora de relaxar e achar que a felicidade é algo possível e que ela vem embalada para presente, gelada como chope, no vento que traz a chuva. 

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