A modernidade a serviço da praça
[Crônica de 19 de março de 2004]
A cidade é uma força viva que se altera permanentemente, seguindo um rumo ou uma trilha que ninguém explica por que o máximo que conseguimos é constar que as coisas aconteceram, depois de já terem acontecido.
Sempre foi assim é não há nada que indique que São Paulo pretenda mudar. Pelo contrário, a cidade faz primeiro e não dá explicações depois. Quem tiver capacidade que a decifre ou a compreenda. Como eu não tenho, simplesmente a aceito como ela, mas fascinado por há quase 500 anos ser assim.
Por conta dessa mobilidade física e intelectual fantástica, que faz com que ruas, praças e avenidas mudem de nome, a velha e boa praça Buenos Aires, do alto de seus 25.000 metros quadrados foi promovida a parque, deixando o Ibirapuera sem saber se ele vai virar reserva florestal ou não, ainda que cheio de eucaliptos, que não são árvores autóctones.
Mas se a velha praça se transformou num parquezinho, quem sou eu para dizer que não. É o movimento da cidade e como eu disse, o jeito é aceitá-lo, ainda mais quando a modernidade escolhe o lugar para se instalar com o que há de mais sofisticado a disposição de uma cidade grande.
O parque Buenos Aires, imaginem vocês, é o feliz proprietário de duas instalações moderníssimas para recolher cocô de cachorro. Eu não sei os detalhes do funcionamento, mas descobri que desde fevereiro as duas estão instaladas na praça e que cada uma tem capacidade para receber cem sacos de lixo de cocô de cachorro.
É muito cocô, o que me faz acreditar piamente que Higienópolis é mesmo a maior concentração de cachorros por metro quadrado da capital.
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