Depois da serra
Você vai, você não vai, tanto faz, quem decide é você. Ou quase. Os imponderáveis se sucedem, para lá e para cá. A diferença pode ser a vida ou a morte. Nem sempre estar no lugar certo na hora certa é a melhor opção.
Imagine os tripulantes da primeira caravela portuguesa que atingiu a altura do litoral paulista ao se depararem com o paredão verde escuro que se erguia à sua frente, ameaçando a possibilidade de chegar lá, fosse onde fosse que seus passos levassem, eventualmente do outro lado da serra, quem sabe trilhando um caminho mágico, aberto no meio da mata.
Imagine esses tripulantes navegando rumo ao sul, entrarem numa barra e darem com portugueses vivendo entre indígenas, chegados ninguém sabia de onde ou quando. Náufragos de outras expedições anteriores, que não deixaram lembrança nos arquivos reais, moravam na nova terra adaptados aos hábitos dos naturais, como se ali tivessem nascido, crescido e vivido a vida inteira.
Com eles os navegantes descobriram caminhos que subiam a serra, numa estrada tão larga quanto as melhores da Península Ibérica, coberta de uma relva especial que fazia lisa sua superfície.
Por ela subiram eles também para encontrar do outro lado dos picos dos montes escarpados campos largos e férteis, cortados por rios que corriam ao contrário.
Encontraram alguns portugueses que vivam ali, em aliança com os indígenas do planalto, com quem desciam índios do sertão para entregá-los no Porto dos Escravos, alguns anos depois rebatizado de Vila de São Vicente.
Forte é a fé, mas mais forte é a coragem de atravessar o mar Oceano e subir as íngremes escarpas, trilhando caminhos desconhecidos para arrancar do coração da América do Sul o que é hoje o Brasil.
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