Gente é parte da história
A Sala São Paulo é um lugar especial, que seria considerado especial em qualquer lugar do mundo. É lindo, tem acústica perfeita, comporta um número importante de espectadores e agora inaugurou um segundo espaço, que vai completar o que já era muito bom.
Colocada dentro do prédio de uma estação de trem, a Sala São Paulo tem arquitetura maravilhosa, que aproveita o prédio antigo para fazer uma composição única com elementos modernos, que dão a qualidade e o conforto da sala de concertos.
Casa da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Sala São Paulo oferece uma rica programação cultural, com espetáculos da OSESP e de outras orquestras e músicos da mais alta qualidade. Ir à Sala São Paulo e aproveitar um desses espetáculos é mais que um programa que vale a pena, é se ter a certeza de que civilização faz parte do progresso humano e que, sem cultura, a volta à barbárie é só uma questão de tempo.
Mas se a Sala São Paulo é tudo isso, o entorno é completamente diferente. A Sala São Paulo é vizinha da Cracolândia. E a Cracolândia é das regiões mais deterioradas da cidade. De noite, passar por algumas ruas do pedaço dá medo e pode ser perigoso. Tenho mais de um amigo que foi assaltado saindo da Sala São Paulo, uns logo na porta, outros mais longe, ao longo do percurso para ir embora.
A vista da Cracolândia não é bonita. Ao contrário, é feia e deprimente. Mas tem um ponto que não pode ser deixado de lado. O que faz a Cracolândia deteriorada e feia, ou o que mais assusta na Cracolândia, são seus moradores. As pessoas em condição de rua, de absoluta vulnerabilidade e desamparo que ocupam o entorno do pedaço. Minha gente, eles também são gente! São seres humanos e merecem as mesmas chances que outros seres humanos mais privilegiados têm. Pense nisso.
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