A natureza pirou
Faz tempo que a natureza vem vindo e, no meio do caminho, volta. Dois pra lá e três pra cá, na toada do baião correndo solto na sanfona do El Niño. Quem pode, pode; quem não pode, se sacode e o barco vai em frente, carregando o planeta cada vez mais desestruturado, como se a pancada fosse necessária para colocar a casa em ordem.
O duro é que, se a pancada política, com o tempo, tem jeito, a pancada da natureza precisará milhares de anos para refazer o quadro, no estado em que estava antes da revolução industrial. Nenhum de nós estará aqui para ver, se é que a volta vai acontecer, porque, normalmente, neste mundo não tem volta. Água que passa debaixo da ponte vai embora para sempre.
Já faz alguns anos que as jabuticabeiras não respeitam a ordem natural das coisas e dão mais de uma carga. Tem quem diga que a culpa é da Embrapa, que introduziu duas safras por ano na agricultura nacional. Segundo essa teoria, as árvores autóctones decidiram mostrar que são tão eficientes quanto a produção de grãos. Que também dão conta de dobrarem a parada e encher a mesa com jabuticabas pelo menos duas vezes por ano. Algumas jabuticabeiras vão além. É verdade que nem todas as cargas são impressionantes, mas chegam a carregar até quatro vezes.
Só que o samba seguiu em outra toada e as amoreiras, que não são nativas do Brasil, decidiram mudar a época de suas frutas. Tradicionalmente, as amoreiras carregam em setembro, outubro… pois pasme! Algumas amoreiras plantadas na Cidade Universitária estão carregadas agora, em pleno verão tropical, com mais de 30 graus celsius na cabeça dos mortais.
Se isso é apenas uma consequência da hipotética violência do El Niño ou uma mudança mais profunda, ainda não está completamente claro. Pode ser que sim, pode ser que não. Só o tempo dirá.
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