502 anos depois
[Crônica de 22 de abril de 2002]
Hoje faz 502 anos que Pedro Álvares Cabral chegou na costa da Bahia, abrindo para o mundo o espanto de uma nova terra, imensa, boa e fértil, habitada por índias nuas com as vergonhas à mostra, muito mais bonitas do que as senhoras portuguesas, e por maridos compreensivos que não só permitiam, como incentivavam os portugueses a se aproximarem das belas senhoras.
Nestes séculos, mudou muita coisa, começando pelo pau Brasil que se tornou escasso, e pelos índios e índias que perderam a beleza e não andam mais nus, convidando os brancos a se misturarem com eles, em brincadeiras gostosas que serviram para povoar o litoral sudeste do país.
Hoje, o Brasil é a nona economia de um mundo completamente diferente, onde as fronteiras defendidas pelos antigos fortes coloniais não servem mais para muita coisa, mas ainda param os passageiros que chegam nos aeroportos e os caminhões que trazem o comércio de outros povos para dentro de nossas casas.
Cento e oitenta milhões de pessoas dividem o enorme território de um dos maiores países do mundo, mantido unido pela sagacidade de D. João VI, pela força de D. Pedro e pela visão política de José Bonifácio.
A cidade de São Paulo, por tantos séculos uma pequena vila de conquistadores pedida atrás de uma serra quase intransponível é a maior cidade abaixo do Equador, e o Rio de Janeiro continua lindo, mas cada vez mais vazio de poder e glória.
A Bahia é e será sempre a Bahia, com a festa se arrastando pelo ano inteiro, pelas ruas das cidades, na costa e no sertão, enquanto o Nordeste vai mudando de cara e o Sul não olha mais pra Argentina, esperando um ataque que nunca veio.
Mas o que não mudou mesmo são os homens públicos. Estes, desde Tomé de Souza, estão aqui pra sugar a terra e fazer fortuna, como se o que o país produzisse fosse deles.
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