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O absurdo é cotidiano

Outro dia recebi um Whastapp de um velho conhecido dizendo que quem vota na esquerda não precisa ser seu amigo, que ele prefere não ter amigo que vota na esquerda ou em ladrão. Que não pretende mais dar a mão a quem fizer isso.

Fiquei estarrecido. Não sei o que aconteceu com meu velho companheiro, mas confesso que fiquei primeiro assustado e depois com medo. Não medo da ameaça, mas da estupidez contida na ameaça. Imagine você não dar a mão para alguém porque ele tem um pensamento político diferente do seu.

A força da democracia é justamente ela aceitar todas as correntes e daí surgir o entendimento, a negociação, o acordo necessário para as coisas seguirem em frente, viabilizando a vida em sociedade. Como dizia uma velha raposa, “em política só bobo briga”.

Não tem como ser diferente, é assim que o mundo anda. Todo mundo tem de alguma forma um pouco de razão. Depende logicamente do lado em que se está. Pra você ele pode ter mais razão, para mim ele pode ter menos, isso não invalida o que cada um pensa, nem como cada um age.

Todo mundo é livre até o momento que interfere na liberdade do outro. Este é o ponto, todos podem avançar até a fronteira do próximo, mas não podem cruzá-la. Essa linha é sagrada e é fundamental para impedir que gente sem noção, por exemplo, coloque um funk a 100 decibéis na praia cheia.

Infelizmente, a mensagem que eu recebi não é inédita, nem novidade. Cada vez mais as pessoas radicalizam e levam a ferro e fogo a sua verdade, sem se importar ao menos em checar se é mesmo uma verdade ou só fake news. Sem bom senso, boa vontade uma dose de confiança é difícil navegar no mesmo barco. Imagine quando não tem nada disso.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.