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Faz frio quando faz frio

Este ano o inverno está pegando mais pesado. Várias noites já tiveram temperaturas abaixo dos 10 graus, o que não é pouca coisa, num país dito tropical.

Dependendo do lado, é uma maravilha, ou não. Se você estiver dentro de casa, com uma lareira acesa, um bom vinho e a pessoa amada ao lado, é maravilhoso, mas se não for assim, pode ir piorando até ficar muito ruim.

Imagine debaixo do Minhocão, às duas horas da madrugada, com o vento passando e a noite gelada. Uma cabana de lona, ou uma construção de papelão e cobertores velhos e você dentro, fracamente protegido, com roupas rasgadas, uma manta puída e no máximo uma garrafa de cachaça para esquentar o corpo e a alma.

Pois é, a cena não é ficção, nem anúncio de ONG pedindo dinheiro. É o mundo real, o que milhares de pessoas passam, debaixo dos viadutos da cidade, ou em praças ou encolhidos debaixo das marquises dos prédios que não protegem muito, mas é o que tem.

Não é fácil, nem mesmo com a prefeitura e organizações privadas se lançando na noite, procurando minimizar o sofrimento dessas pessoas. Os abrigos lotam, mas não são o sonho de felicidade de quem os procura. Eles vão lá porque sabem que é melhor do que ficar na rua, aguentando o frio e o vento direto no corpo.

Dizem as estatísticas que mais de 80 mil pessoas vivem em situação de rua na cidade de São Paulo. Parte delas não é daqui, mas dos municípios vizinhos e correm para a capital porque o atendimento é melhor, o acolhimento mais largo e as chances de não sentir tanto frio são reais.

O duro é que não tem alternativa. É assim ou é assim, faz anos e não há nada no horizonte que indique que no ano que vem será diferente. Pense nisso, está profundamente errado.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.