O silêncio dos inocentes
[Crônica de 26 de junho de 2009]
Ninguém pergunta para os carros velhos brasileiros se eles querem ou não ficar nas ruas. Ninguém se preocupa com a honra e a dignidade destes heróis de outra época, quando a vida pegava mais leve e a ética fazia parte dos valores da sociedade brasileira.
Quem se lembra do que um bom e sólido Opala Espacial era capaz? E do conforto de um Galaxie? E da potência exagerada dos Dodge Darts? Quem nunca teve um amigo que dirigia Corcel? Ou uma mãe que tinha Brasília? E o que dizer dos modelos esporte: Karmann Ghia, Puma, Willys Interlagos, Brasinca
Correr não corriam, pelo menos, não muito. Mas passavam emoção. Emoção que se multiplicava na estrutura mal costuradas dos bugs e de alguns modelos híbridos, que vinham, se mostravam e desapareciam, com a sem cerimônia dos anjos, que todo mundo sabe que existe, mas ninguém vê, pelo menos por muito tempo.
Pasme. Alguns destes carros têm mais de 40 anos, outros passam dos 30. E eles ainda estão por aí, cruzando nossas ruas, nem sempre com a dignidade de quem, na sua época, saiu de São Paulo e foi bater em Natal, nos idos de 1972.
Pode mais quem chora menos. Não tenho a menor certeza se os carros atuais fariam a mesma viagem, à época, ou nos dias de hoje. Também não sei se sobreviveriam tanto tempo.
O problema é este: ainda que se aguentando, parte dessa frota de vovôs não pode mais ficar nas ruas. São um perigo e um estorvo. E isso atrapalha demais a vida moderna.
Não é falta de respeito. Afinal, tive Opala, Chevette e Passat e achava todos eles máquinas infernais. É só bom senso.
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