América Latina, mudou o jogo
Nos últimos 200 anos a América Latina foi um canto esquecido do mundo. Fora das rotas mais importantes, a região era marginal e marginalizada, ninguém lembrava muito dela, ficava em segundo plano, com os americanos acreditando na Doutrina Monroe e os ingleses tocando o jogo com sua costumeira sensibilidade e boa educação, baseada na boca dos canhões de sua frota.
Exportávamos café, açúcar, cacau, minérios, como ferro e cobre, e não pesávamos nem para cá, nem para lá, muito pelo contrário, a vida seguia sonolenta, com nossas manias sendo nossas manias e 20 anos de atraso em relação ao que acontecia pelo mundo.
As diferenças sociais eram diferenças sociais, a democracia tinha o verde e as estrelas das fardas, as forças armadas eram desenhadas para golpes de estado, mas a vida seguia seu rumo, mais ou menos devagar, com praias e montanhas criando cenários deslumbrantes e uma rica natureza enchendo todos os espaços com doenças, milhões de formigas e outros tantos insetos voadores de todas as naturezas.
Éramos acima de tudo, exóticos. Achavam graça nas festas e nas manifestações do povo, religiosas ou não. E a natureza exuberante escondia uma realidade social muitas vezes brutal, com diferenças e privilégios criando barreiras apavorantes, invariavelmente derrubadas na marra, na violência de mais um golpe ou revolução.
Só que isso mudou. De repente os Estados Unidos descobriram a América Latina e pela primeira vez na história, decidiram mandar uma frota de guerra para a região, sabe Deus para o que. A coisa engrossou de tal maneira que é bom ficar quieto até porque ninguém sabe o final disso tudo.
Quem fala muito dá bom dia pra cavalo. Ninguém sabe o que vai acontecer, mas tem tudo para dar errado.
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