O maravilhoso ciclo da vida
[Crônica de 26 de setembro de 1998]
Um dos meus programas de fim de semana é andar de bicicleta. Saio de casa e sumo pela Cidade Universitária quando dá, e pelo resto da cidade quando a Cidade Universitária está fechada.
Costumo pedalar bastante, pelo menos para mim, de forma que, depois de 17 ou 18 quilômetros, acho que é hora de parar na banca de coco verde que tem na esquina da avenida Valentim Gentil com a praça Vicente Rodrigues e fico bebendo um coco gelado e vendo a vida passar, sem me preocupar com mais nada muito sério.
É em razão dessas paradas quase obrigatórias depois de cada passeio que já escrevi várias crônicas, a maioria para elogiar a paineira que é a rainha da pracinha normalmente maltratada, mas muito simpática, sempre servindo de baliza para os caminhões que vem do Sul e que entram rugindo e fumando pela cidade, como se a verdadeira razão da sua vinda não fosse o transporte de mercadorias, mas feri-la e humilhá-la das formas mais cruéis possíveis.
Pois mais uma vez volto ao tema. A praça Vicente Rodrigues completou mais um ciclo, com a primavera substituindo o inverno e vestindo de verde todas as suas árvores e plantas.
A roupagem da paineira, então, é deslumbrante. Sobre os galhos nus até poucas semanas atrás, uma camada de folhas de um verde intenso e rico se espalha soberana, balançada pelo vento que entra pelo corredor formado pelo leito do Rio Pinheiros.
Imponente, a paineira sobressai na paisagem, deixando as azaleias e as acácias lá embaixo, também vestidas de folhas novas, mas muito menores, muito menos imponentes, mostrando que ela é a rainha, ainda que de um reino pequeno e restrito aos limites da praça.
Seu verde é o verde da esperança e do sucesso. Linda, sua folhagem de primavera fala da passagem do tempo e de como é bom estar vivo.
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