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A sucuri de Campinas

[Crônica de 10 de agosto de 2000]

Os relatos das primeiras monções dão conta do encontro com cobras gigantescas, que povoavam as margens do Tietê e que não se acanhavam, se pudessem comer algum membro da expedição em direção ao ouro de Mato Grosso.

Sucuris gigantescas viviam às margens do rio. Os relatos falam de cobras com mais de 10 metros de comprimento como coisa normal de ser encontrada na longa viagem que ligava Porto Feliz a Cuiabá. Era um espetáculo impressionante, que o progresso lentamente, com o desmatamento do interior do estado, foi tornando cada vez mais raro, até praticamente se extinguir.

Fazia muito tempo que ninguém escutava falar de uma cobra grande aparecer em terras paulistas. Cobras venenosas com certeza,  em quantidade sempre crescente, e por razões lógicas.

Assim, a primeira reação ao encontro de uma sucuri de quase cinco metros próxima a Campinas foi de espanto.

Além disso, como os roteiros das monções e a história do Brasil são quase que completamente desconhecidos da população, a segunda reação foi de surpresa, porque pouca gente sabe que São Paulo já foi berço dessas enormes cobras, tidas como do Pantanal ou da Amazônia.

Mas o que levou um certo tempo para ser entendido, inclusive pelos especialistas, foi as razões de fato e de direito que levaram a cobra a se aventurar tão perto de uma grande cidade, em vez de ficar em seu mato nativo, perto de algum grande rio, povoado de capivaras.

A verdade que só ficou clara depois que a cobra foi solta de novo, numa reserva do estado, é que a sucuri estava tentando chegar na capital, não para comer as capivaras que se mudaram para o alto Tietê, mas para tentar comer os candidatos a cargo público, tidos pelos jacarés, desde a construção do piscinão do Pacaembu, como um petisco inigualável.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.