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A necessidade do belo

[Crônica de 22 de março de 2002]

Eu não sei se os outros animais se comovem. Tem gente que diz que sim, tem gente que diz que não, eu não sei, se bem que tenho minhas dúvidas quanto a insensibilidade das outras espécies.

Já o ser humano, não, o ser humano, mesmo o mais bruto, se comove. Tem sempre alguma coisa, ainda que inesperada, que toca o coração mais duro, a alma mais fria. Quando isso não é verdade, o ser em questão não é humano, é uma besta fera, que deveria ser isolada, seja lá qual for a razão para ter perdido a sensibilidade.

Entre as necessidades da alma, com certeza o belo ocupa um lugar especial. O belo é indispensável para a vida, ou para o equilíbrio na vida, e isso o torna único, como momento e como reação. Cada um reage de um jeito diante de cada situação. E com o belo não é diferente. Tem gente que chora, tem gente que ri, tem gente que fica muda, enquanto outros começam a falar.

Não há uma reação padronizada e é justamente isto que faz de cada ser humano um indivíduo único e inclonável, mesmo a ciência dando as técnicas materiais para a construção de outro ser, exatamente igual, na aparência, ao ser original.

O belo é o pão da alma. O belo é a razão de ser da sensibilidade e o padrão que norteia a inteligência. Sem a esperança do belo, não há esperança de melhora e sem ela não há esperança para a raça humana.

Mesmo na tragédia, na miséria, no sofrimento, o belo tem um papel de destaque, que muda o momento da pessoa, dando-lhe algo inefável, inexplicável, mas concreto como a própria vida, para mudar seu futuro e fazer a vida uma aventura diferente, mais fácil e menos áspera, porque num momento, mesmo fugaz, ele teve diante de si o belo. A beleza plena entrou pelos seus olhos, tomou a alma, se espalhou pelo corpo, para marcar para sempre com uma vibração boa, o mais profundo do seu coração.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.