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A lição da pitangueira

[Crônica de 3 de outubro de 1998]

A florada dos ipês, este ano, foi menos impressionante do que a do ano passado. Alguma coisa errada nisso? Não, aconteceu e pronto. A natureza não dá muita explicação, as coisas simplesmente acontecem ou não, e tudo continua como antes, dentro dos ciclos cósmicos que se criam e se expandem desde que o universo é o universo, muito além da compreensão humana.

As razões que levam um ano a ser diferente do outro são as mesmas que levam uma maré ser diferente de outra e uma mulher ser diferente de outra, e cada ciclo cumprir o seu tempo, marcando o seu ritmo, sem outro por quê, além da cadência do cosmos seguir a cadência maior do coração de Deus.

Foi assim que mais uma vez aprendi, com o exemplo da natureza, que cada  momento chega na sua hora, porque antes seria cedo e depois seria muito tarde.

Há três fins de semana que eu pedalo até a rua Moncorvo Filho, altura do número 92, para vigiar minha pitangueira. Pitangueira que, de verdade, nunca foi minha, mas que eu adotei porque ficava quase em frente da minha antiga casa, na calçada da dona Iolanda, que foi quem a plantou.

Nos dois sábados anteriores fui até lá e nada. A pitangueira mal tinha flores pra  anunciar sua carga de frutas. No domingo passado, cheguei inclusive a procurar outra árvore que estivesse carregada com os frutos vermelhos, para matar minha fome de primavera no amargo gostoso dos frutos.

O resultado foi que, por precipitação, acabei comendo os frutos menos saborosos de outra pitangueira, plantada perto. Este fim de semana fui até a Moncorvo Filho e minha pitangueira estava lá, abarrotada de frutas maduras, me esperando com sua safra amiga. Me empanturrei de comê-las no sábado e no domingo e, mais uma vez, aprendi que antes da hora é cedo e depois da hora é tarde. A hora é a hora e por isso não adianta apressá-la.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.