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Na cidade é mais fácil

[Crônica de 17 de dezembro de 2001]

Que a vida urbana tem vantagens capazes de tirar o homem do campo do campo, ninguém discute. Não há discussão possível contra números e desde o começo do século passado que o mundo assiste à migração constante do camponês para a cidade, com tudo de trágico que isso invariavelmente traz consigo.

O que ninguém esperava é que esta migração se estendesse aos bichos. Só que ela aconteceu e hoje São Paulo é um bom exemplo deste fenômeno. A quantidade de bichos hipoteticamente selvagens que moram na área urbana da capital é impressionante.

De jacarés a capivaras, passando por onças pardas e pintadas, veados, quatis, macacos, cobras, ratos, baratas e mosquitos, é possível se encontrar quase todas as espécies por aqui.

E elas não vieram porque se perderam ou foram trazidas por alguém que foi até o Pantanal e achou simpático ter um jacaré em casa. Não, grande parte deles está aqui porque descobriu que é muito mais fácil viver na cidade do que nos campos ou florestas onde cresceram.

A melhor prova disto é a quantidade quase infinita de aves que habitam em São Paulo e que são as responsáveis pela diminuição do número de pardais na cidade.

Foi uma cena inusitada, com um gavião, que me fez escrever esta crônica.

Estava saindo de casa para levar minhas filhas para o colégio. Assim que o carro saiu da garagem, dei com ele pousado no asfalto da rua, como quem não quer nada com a vida, em paz e com jeito de quem estava com todos os preços pagos.

Era um gavião pinhé, que me fez lembrar da minha infância na fazenda, onde estas aves eram comuns. A diferença é que ele estava na cidade, sem medo do carro ou das pessoas na rua. É que a vida aqui, para ele, é muito mais fácil e segura do que no campo.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.