Xererem da Serra do Cachimbo

Eu não conheço Xererem da Serra do Cachimbo, aliás nem sei se existe, mas os que afirmam que existe falam maravilhas do lugar. Garantem que lá a utopia atingiu seu grau mais alto e que Sir Thomas Morus, o grande pensador inglês, ficaria alucinado com tudo o que rola na região.

Xererem tem cem por cento dos imóveis com água encanada. Mais que isso, a água, ao contrário da água paulistana, não tem gosto, nem cheiro, nem cor. O produto segue os preceitos dos livros do ginásio, que definiam a água como um líquido inodoro, incolor e insipido.

Xererem tem cem por cento dos imóveis com rede de esgoto instalada. E cem por cento do esgoto é tratado com tanta competência que o que é jogado nos rios, depois do tratamento, é água potável.

Xererem não tem postes. Toda a fiação é subterrânea, os fios correm por dutos especiais, instalados debaixo das calçadas. Mais que isso a energia elétrica usada em Xererem é cem por cento gerada por matrizes limpas, não poluidoras.

Xererem tem internet de oitava geração, com inteligência artificial tão inteligente quanto os humanos. Para serem como nós só falta chorar.

Xererem tem serviço de relacionamento grátis. E com todas as possibilidades a disposição do freguês. É escolher, digitar a opção desejada e em poucos segundos o contato está feito. Daí pra frente vai depender da competência do cidadão.

Xererem se orgulha de só ter políticos honestos e competentes. Do índice de criminalidade ser próximo a zero, de não ter acidentes de trânsito. Da polícia não prender ninguém porque não precisa.

Xererem é isso tudo e muito mais. Se aproxima do paraíso na Terra, quase igual as missões jesuítas onde os indígenas vivam como querubins. Pena que Xererem não existe.

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