A hora e a vez do daqui a pouco
Daqui a pouco eu faço. Não se preocupe, não vou me esquecer. Daqui a pouco eu faço, seja lá o que for. Pular muro, correr no campinho, nadar no rio, olhar a lua refletida no lago, tudo, absolutamente tudo, mas daqui a pouco, agora não dá. Agora é cedo. Ou tarde, tanto faz. Agora, não dá.
Daqui a pouco vejo a hora certa, sintonizo a BBC, ligo a TV a cabo, vou ao cinema. Ou melhor, daqui a pouco você e eu, nós vamos ao cinema. Vamos nos divertir, andar de taxi, pegar o ônibus elétrico, comer pipoca na avenida Paulista. Tudo bem, faremos tudo, mas daqui a pouco.
Tem gente que não vê o ritmo da vida. Acha que tudo é para agora, ou melhor, para ontem. Não é. Cada ritmo tem um ritmo. Cada toada segue uma toada. Cada marcha marcha no ritmo, o resto é bobagem. Pra quê chegar na hora? Pra quê fazer alguma coisa agora?
Sou livre, leve e solto, poderoso feito o cruzador Barroso, furtivo como um DC-3 voando baixo no meio das nuvens, em plena antevéspera da madrugada.
Agora ninguém me para, ninguém me pega, ninguém me faz fazer o que eu não estou com vontade. Pode ser que depois…depois é muito tempo! Agora, não.
Agora, só depois. Antes é cedo, depois é tarde, a hora é a hora – provérbio militar. Mas eu não estou nas Forças Armadas, então não vou seguir o conselho do ditado. Vou deixar o agora para depois, tanto faz se atraso ou não.
A festa tem hora para começar e acabar. Só descobriram isso quando chegaram depois da festa ter terminado. É assim porque é assim, gringo não tem noção das coisas, não sabe que ser fino é chegar atrasado. Mais que fino, poderoso. Ah, a imensa preguiça que move montanhas e faz alguns brasileiros, por princípio, serem espertos e chegarem atrasados.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h