Meu pai
Depois dos tios, meu pai. Meu pai foi um homem muito especial. Das pessoas mais inteligentes, íntegras, honestas, corajosas e cultas que eu conheci. Ao mesmo tempo que podia ser bravo, era generoso, compreensivo e sempre procurava se colocar no lugar do outro.
Quantas noites ficávamos conversando na sala lá de casa, ele sentado na sua poltrona, de costas para o jardim, com seu uísque com água na mão, o bar aberto e eu e meus amigos em volta.
Todos os assuntos eram permitidos. Ele gostava de nos ouvir, dava risada, contava sua vida e nas horas difíceis dava o ombro, conselho, a mão, uma palavra ou um gesto, feito meio que sem querer mostrar, porque no fundo ele era tímido.
Meu pai gostava da família, dos amigos, dos meus amigos, de seus livros, de pescar e descobrir o Brasil, andando pelas regiões mais distantes e pouco conhecidas como quem está em casa.
Desde menino me habituei a vê-lo chegando de Cananéia com robalos e pescadas enormes. E desde menino me levava pescar com ele, em Cananéia, no Guarujá, pela costa de São Paulo e Rio de Janeiro. Até hoje tenho a carretilha Abu que ele me deu quando eu não tinha 10 anos.
Curioso, ele queria saber tudo, ver tudo, descobrir o mundo e tentar entender a vida, que, ele reconhecia, era muito maior e não tinha jeito de ser entendida. Por isso, o melhor a fazer era viver e aceitar a vida.
Meu pai foi pai, mas foi também um grande amigo, meu maior amigo. Conversávamos sobre tudo, tínhamos poucos segredos um com o outro. E eu gostava de estar com ele. Quando era menino, adorava passar o dia na Usina. Depois, quando cresci, era muito bom almoçarmos juntos e jogar conversa fora. Falávamos sobre tudo, as horas fáceis e as difíceis, minhas e dele. Muito do que eu sou eu devo a ele. Pai, descubra a eternidade.