O peso da vida
Viver é muito perigoso. O demo existe e está em cada curva, em cada sombra, pronto para saltar em cima, tomar a alma e a levar pras profundezas do inferno. Breve síntese de Grande Sertão, Veredas. Riobaldo Tatarana, filósofo do sertão, chefe de jagunços, apaixonado pela vida e pela beleza da vida, tentando decifrar o Tinhoso, o Cujo, o Daninho e suas maldades, se enfiando no corpo, no cérebro, pela imaginação que corre solta, pelos olhos pasmos de espanto, pela boca aberta de susto, pelas vontades de todos os tipos.
Viver é muito perigoso. Em todo caminho as tentações abrem desvios, chamam, enganam, na caça da alma que o diabo espera pra atazanar pela eternidade.
Quem disser que viver é fácil ou é muito moço ou está mentindo. Se não for nenhuma das duas, é um tonto que não percebe o que acontece em volta.
A vida pega pesado. Todos temos nossa carga de Jó, nossos encontros complicados, as surpresas que alteram o quadro e nos empurram, contra a vontade, feito barco sem rumo, carregado pela ventania, no meio da tempestade.
Antes é cedo, depois é tarde. Mas como saber a hora? A vida chega e passa. Deus não coloca duas vezes cavalo arreado na frente da gente. É montar e tocar em frente ou perder a viagem.
O pra onde é que são elas. Ninguém sabe a rota. A rumo é sempre desconhecido. E os planos se limitam aos portolanos e astrolábios, com os quais tentamos descobrir os segredos do mundo.
A vida vem como vem. Não adianta querer mudá-la. Nela, o se não é uma opção. O jeito é arrumar forças e tocar em frente. E, se der, num momento de distração, se esconder num barranco e deixá-la passar.