O tapete amarelo
As sibipirunas são árvores curiosas. Ficam grandes e são discretas, o que pode parecer um contrassenso, mas é verdade. Quantas pessoas sabem que elas existem? Quantas conhecem seu nome? E, no entanto, estão aí, com seu tronco forte e suas folhas verdes claras, enfeitando e dando sombra pra cidade.
Nesta época do ano florescem. Dividem o espaço com as tipuanas e com os ipês amarelos, enchendo o céu com o amarelo forte de seus cachos de flores pequenas.
Elas estão por toda parte, mas não são tantas, nem têm o destaque das tipuanas e dos ipês. Também não costumam cair, arrancadas pelas raízes, nas tempestades que assolam São Paulo.
Na frente do meu escritório tem um renque de sibipirunas espalhadas pelas casas do outro lado da rua. Foram elas que fizeram uma festa especial, com ajuda do vento forte que varreu o pedaço, antes da chegada da chuva.
O vento passou pelas copas com força, balançando os galhos e derrubando as flores em cima do chão calçado de uma casa do outro lado da rua.
Como se houvesse uma combinação entre o vento e as árvores, parecia que todas as flores tinham caído apenas ali, cobrindo a pedra escura com um tapete amarelo absolutamente deslumbrante.
Nenhuma procissão de Corpus Christi passou em tapete mais belo. Nenhum rei entrou na catedral da sua coroação desfilando em chão mais rico. Nenhum tear teceu trama mais perfeita.
Como os lírios do campo mais belos que as roupas de Salomão, as flores das sibipirunas espalhadas no chão criaram um cenário mágico, pra mostrar que quem sabe e faz é a mãe natureza.