Eu detesto tomar injeção
Tem quem não gosta de pimenta. Quem não gosta de pipoca. Quem não gosta de fígado. Quem não gosta de outras pessoas. Quem não gosta do povo. Enfim, tem espaço para não gostarem de quase tudo.
Eu não conheço ninguém que goste de tudo ou não goste de tudo. Tem os mais implicantes, mas de alguma coisa o cidadão sempre gosta, ou não gosta. No caso, não há extremismo tão extremista.
Eu não sou exceção à regra. Também não gosto de algumas coisas, embora não seja verdade que eu não goste de nhoque. Tem quem acha graça eu não gostar de nhoque, mas o problema é outro. Eu não gosto, nem desgosto de nhoque porque nhoque simplesmente não existe.
Nhoque é um pesadelo. Pesadelo é um sonho ruim. Sonhos não são reais. Portanto, nhoque não existe.
Mas eu não gosto de outras coisas que existem. Não gosto de mordida de borrachudo. Não gosto de picada de vespa. Não gosto de carrapatos. Não gosto de esperto no trânsito.
Também não gosto de fígado, nem de rim, nem de quiabo. E todos existem.
Entendo perfeitamente quem não gosta de ervilha, muito embora, num aperto, eu coma as bolinhas verdes sem achar ruim.
Mas, como todo mundo, em sou humano e tem uma coisa que eu detesto. Detesto sem precisar fazer força pra lembrar que eu detesto.
Eu detesto tomar injeção. Desde menino, sempre detestei tomar injeção. Pode ser por causa de um senhor que aplicava as injeções que devíamos tomar. Pode ser por qualquer outra causa, tanto faz, a causa não interessa, o que interessa é que eu detesto tomar injeção.
Qualquer injeção. Por mais bem que ela faça, por mais que me cure. Pela salvação do mundo. Como prova de amor. Eu tomo, mas detesto.