Quem espera não alcança
Diz o ditado que em espera sempre alcança. Pode ser, no ditado. Na vida real o buraco é mais embaixo. Quem fica achando que vai dar, na média, se dá mal. Não dá. Não acontece. O esperado não chega, não se faz presente, não enche os corações de alegria.
Pelo contrário. O processo costuma ser frustrante. A gente imagina que deu, que mais um pouco tudo se materializa, e, não. É o contrário. O bem encaminhado fica só na promessa. Não se materializa, e morre manso e doce como marola em enseada protegida.
Outro ditado reza que Deus ajuda quem cedo madruga. Não sei para o que, exceto escapar do trânsito mais pesado que toma as ruas da cidade depois das sete da manhã.
A verdade é que não existe regra. Tanto faz fazer força como não fazer. Tudo que você espera, que está acertado, garantido e juramentado, com firma em cartório e tudo, de repente faz água.
Simplesmente não acontece. E você fica próximo, vendo a vida passear feito cachorro preso na coleira, puxada pela mulher amada que não percebe que você está perto e que depende dela a vida mudar de cor.
Horas e horas de espera, feito caçada de macuco, jogadas fora por um espirro fora de lugar, uma mexida atabalhoada, um cigarro mal aceso.
Próximo muito próximo o prêmio passa ao seu lado, mas não para e está uma unha além da sua capacidade de retê-lo. Não tem como, você grita, mas ele vai embora.
Sobra a certeza do instante perdido, do que poderia ter sido, mas nunca será, por mais belo, mais rico e mais verdadeiro que fosse.
Sobra a frustração do encontro adiado. Da viagem perdida. Dos sonhos que ficaram apenas sonho, enquanto a vida corre indiferente.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h