Diferenças
Antigamente, tinha onça nas matas das fazendas. E não precisava ser fazenda longe. Menos de 100 quilômetros de São Paulo era mais que suficiente para se escutar o urro da fera. Tinha gente que dizia que ia caçar a onça, tinha gente que fingia que ia caçar a onça e a criação ficava encolhida, com medo dela.
Mas antigamente, quando? 60 ou 70 anos atrás? O que é isso na grandeza dos séculos? Nada, mas na vida das pessoas é uma eternidade.
Eternidade que, no caso da onça, parece que não aconteceu nada. Fica tudo como sempre foi, com onça nas fazendas na zona rural em volta de São Paulo.
Mas se antes o urro era no mato, agora o rosnado pode ser na varanda da casa, seguido de um barulho leve, como de folhas sopradas pelo vento raspando no chão.
Como eu sei que é onça? Porque quem me contou que viu a bicha foi gente próxima. Primeiro, de madrugada, no terraço do sítio, e depois, encarapitada num flamboyant.
A segunda vez foi mais emocionante. Ela estava passeando pelo sítio quando, meio que sem querer olhou para a copa das árvores que margeiam a estrada e deu com bruta deitada num galho grosso.
Não ficou claro se a onça assustou. Mas meu amigo, por via das dúvidas, foi, lentamente, se afastando de costas.
Ele não tirava os olhos da onça que também olhava para ele, sem pressa nenhuma e sem qualquer movimento que indicasse que iria atacar. Como caldo de galinha e prudência não fazem mal a ninguém, sair dali foi a melhor solução. Depois disso, ele não viu mais a fera, mas dá sempre com seus rastros gravados no chão molhado.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.