O escorpião
Tem gente que não acredita em olho gordo. Acha que é tudo invenção, como história da carochinha. É gente que conhece pouco do mundo, que imagina que mula sem cabeça e saci não existem.
Que são lendas, feito o Tatu Branco, que comia os bandeirantes e que de verdade era uma tribo de índios que vivia em Goiás, como muito bem conta mestre Câmara Cascudo, no seu livro “Lendas Brasileiras”.
Olho gordo é tão real quanto as bruxas. Existe, apesar de ter gente que diz que não existe. Olho gordo pega e faz mal. E quando o olho gordo é consequência de ciúme de homem, aí fica pior ainda, porque não há nada pior que ciúme de homem em relação ao sucesso de outro homem.
Quando o cara pergunta “por que ele e não eu?”, alguma coisa está profundamente errada. Fora de eixo. E faz mal como presunto estragado, ou melhor, dependendo da força do despeito, te leva a comer presunto estragado, com tudo de ruim e desconfortável embutido na experiência.
Querer mal não é brincadeira, não é imaginação. Tanto é que tem dias que começam completamente tortos, com tudo dando errado porque alguém com ciúme lançou olho gordo em cima de você.
E o mal pode ser plural. Atinge várias pessoas de uma única vez, seca as avencas e as arrudas e o sal grosso, deixado como simpatia no copo, chega a borbulhar tentando afastar as vibrações negativas.
Foi assim uma bela segunda-feira de manhã. No caminho do escritório, um parafuso furou um pneu do meu carro. No escritório, o computador do meu sócio estava com vírus. E quando parecia que não tinha mais jeito de piorar, a faxineira encontra um filhote de escorpião andando na sala da gerência. Nessas horas, só muito sal grosso, espelho olhando pra porta e olho grego para afastar mal olhado. No mais, fé em Deus e pé na tábua.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.