Nem tudo é festa
Faz alguns dias recebi uma mensagem na qual o autor dizia que estava desligando o rádio quando eu entrava no ar. Segundo ele, minhas crônicas tinham perdido a leveza, a graça e a poesia e eu estava fazendo o jogo dos inimigos.
Confesso que fiquei curioso em saber quem seriam os tais inimigos que tinham me enganado, mas, por outro lado, me senti confortável, porque minhas crônicas tinham deixado de ser alegres e leves e os ouvintes estavam percebendo isso.
A missão de uma crônica é retratar um fato, um momento, um tempo da vida social. Ser uma fotografia escrita de algo que acontece num determinado instante e impacta ou altera a realidade em volta. Não precisa ser algo colossal, nem maravilhoso, nem grandioso… um mero detalhe na vida de uma pessoa é suficiente para dar origem a uma crônica, da mesma forma que um cataclisma ou uma revolução.
A vida não fácil, nem difícil, a vida é a vida. Corre feito um longo rio, que atravessa cachoeiras, remansos, zonas turbulentas, alagados, com margens cobertas de matas e zonas devastadas, sempre passando até cumprir seu destino de rio.
A vida não é permanentemente bela, nem eternamente infeliz. Cada dia é um dia diferente e a diferença é maior ainda quando entra na vida de cada pessoa.
Não é possível esconder o sol com uma peneira, nem é possível um texto sobre o cotidiano deixar de lado o feio, o sujo, o corrupto e o podre quando eles afetam a rotina da vida.
Concordo, escrever sobre o belo é muito mais agradável que abordar o feio. Mas o feio é parte do todo e, se o feio e o triste se sobrepõem ao belo, é hora de denunciá-los, mostrando os estragos que eles causam.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.