Fake news ao vivo
A polarização brasileira atingiu um ponto tão fora da curva que comprar pão pode se transformar numa discussão, com pontos a favor e contra, como se o destino do mundo dependesse da padaria, da farinha, do fermento e do padeiro para virar à direita ou seguir à esquerda.
O problema não é a discussão, mas o desconhecimento de muito que é dito por grande parte dos envolvidos.
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Na questão da cloroquina, é comum sacarem um “a Lancet publicou isso” ou “a Lancet publicou aquilo”, só que, se você perguntar para quem fez a afirmação se ele sabe o que é a “Lancet”, você vai descobrir que ele nunca viu a revista, não sabe do que ela trata, nem porque é respeitada e não consegue dizer se ela é publicada na Grã-Bretanha ou na Bélgica.
A única certeza é que não deve ser americana porque, se fosse, o Trump, que é amigo do nosso presidente, já teria tomado providências para obrigar a revista a parar de falar mal do Brasil e da forma como o país lida com a pandemia do coronavírus.
A tranquilidade com que sacam que o hospital tal apoia os apoiadores da cloroquina ou que a Organização Mundial da Saúde recomenda seu uso no combate à covid19 apavora. Dá vergonha e vontade de perguntar: “quem é que te falou?”
Mas a coisa está piorando e agora não é raro alguém invocar um nome famoso ou respeitado e dizer que ele disse isso ou que ele disse aquilo.
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Não faz muito tempo, durante uma discussão sobre o apoio da Santa Casa de São Paulo ao uso da cloroquina, diante da negativa clara e indiscutível, alguém afirmou que um conhecido infectologista apoiava o uso do medicamento. O problema é que esse infectologista nunca disse isso e não apoia a cloroquina, pelo menos até que se tenham estudos científicos recomendando seu uso. É a “Fake News” ao vivo, na cara dura. Que vergonha…
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h