Compaixão faz bem
Não há motorista que não se irrite com os catadores de lixo. Os riquixás puxados a força humana, numa cidade de topografia cruel como é São Paulo.
De repente a avenida para, o trânsito não anda, o sinal verde não favorece em nada, porque ali na frente vai um cidadão curvado, arrastando uma carroça desengonçada cheia de badulaques e lixo, que ele pega nas caçambas e latas da vida.
Dá vontade de jogar tudo para o alto, meter a mão na buzina, atropelar um marronzinho, bater num motoqueiro. Dá, mas está errado.
Enquanto este país em pleno século 21 condenar seres humanos a puxarem carrocinhas de lixo para ganharem honestamente o pão nosso de cada dia, está tudo errado. Até retirá-los das ruas.
As alternativas são dramáticas e muito piores. Na rua, catando lixo, às vezes, acompanhado de um cachorro velho, o cidadão trabalha, ganha algum, pouco, mas suficiente para o filho estudar ou a filha não se prostituir.
Fora das ruas quais suas alternativas? Assaltar. Matar, roubar, traficar? Todas elas seriam péssimas, e ainda trariam consequências piores ainda.
Ao ver o riquixá se esforçando ladeira acima – porque eles também sobem ladeiras – não se exalte, mas olhe com olhos humanos, com compaixão, como se houvesse em algum ponto perdido no passado um elo quebrado que o liberou de uma sina assim.
Lembre-se: sorte faz parte da vida. Sem ela, tanto faz a inteligência ou competência. Ninguém pediu para nascer na favela. As coisas são como são simplesmente porque são.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.