A construtora de igrejas
São Paulo não tem igrejas antigas ricas e trabalhadas como são as igrejas coloniais do Rio de Janeiro, de Minas ou de Salvador. Não tem porquê não poderia ter. Até meados do século 19 a metrópole atual era uma vila de 20 mil habitantes, pobre, suja e sem graça, onde a única diversão durante séculos eram as festas religiosas e, depois, a boemia da vida acadêmica, criada pelos alunos da faculdade de Direito.
A cidade era pobre e sua pobreza se reflete nas poucas construções que sobraram daquela época, todas sóbrias, sem retoques ou enfeites sofisticados, de taipa, e telhas largas.
As igrejas não eram diferentes. E o que é pior: ainda que tendo uma religiosidade impressionante, os paulistas não se preocupavam em mantê-las, e volta meia uma caía ou se transformava em tapera, o que explica a imagem de Santo Antonio estar no convento dos franciscanos e não na igreja do santo, na praça do Patriarca.
São Bento, gótica, está longe da planta da igreja colonial, para não falar na igreja do Carmo, que não está mais nem no terreno original, ao lado da igreja da Ordem Terceira, próxima da igreja da Boa Morte.
Mas, as igrejas de São Paulo têm um encanto especial, justamente pela simplicidade das linhas, que fazem mais fácil o ato de falar com Deus.
É esta beleza que a artista Maria Clara Fragoso consegue transferir para suas obras, alguma verdadeiramente primas, recriando em barro miniaturas das igrejas tradicionais da cidade.
Meu sócio Armando me deu a reprodução do complexo de São Francisco. É uma peça delicada, que recria a arquitetura de 150 anos atrás numa obra que chega ao detalhe das ranhuras das telhas, das cruzes e das curvas das fachadas. Obrigado a ele e a Maria Clara Fragoso.
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