As tipuanas
As tipuanas são as árvores mais comuns das ruas de São Paulo. Mas nem por isso elas não são belas, com seus galhos se erguendo quase sempre em formas desesperadas, como se tentassem alcançar o céu para arrancar um segredo dos anjos.
São árvores grandes que depois de velhas caem em cima dos carros parados não porque sejam más, mas porque a prefeitura não cuida delas com o carinho devido e o resultado é que acabam sendo tomadas pelos cupins, que lhes devoram as raízes e as deixam fracas, sujeitas ao vexame de caírem, atingidas por um vento um pouco mais forte.
As tipuanas com certeza não gostam deste papel, mas não têm como se revoltar, nem podem fazer nada para impedir o vento ou que os cupins comam suas raízes. Se pudessem, já teriam feito, ou será que alguém se imagina tendo os pés devorados por bichos sem qualquer tipo de reação.
Pois é, elas são iguais a qualquer um de nós e sentem na casca o que é um bicho subindo por dentro delas, as devorando lentamente, abrindo caminho e furando um túnel pelo meio do tronco que por fora parece forte, mas que vai sendo dia-a-dia fragilizado, até ficar tão fraco que acaba derrubado pelo primeiro vento forte de uma tarde de verão.
As tipuanas gostariam de reagir, de se revoltar contra os cupins e poder lutar com eles em igualdade de condições, mas como simples árvores, plantadas nas calçadas das ruas, elas não têm como, nem equipamento, nem dinheiro, nem nada, exceto uma fé inabalável, para enfrentar os monstros que as devoram vivas.
Então elas seguem em frente em seus dias de eternidade de árvore, dando sua sombra boa para fazer mais fácil a vida de São Paulo.
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