Pink Floyd no morro e no mar
Faz muito tempo, meio século, mas a lembrança é nítida, de se sentir o calor do dia na pele e a luminosidade do sol nos olhos.
Saímos de Guarujá no Verdinho, meu Opala 2500 Especial, de manhã bem cedo. O destino era a praia da Barra do Sahy e a viagem até lá levava tempo. A história é de antes da Rio/Santos, quando as praias tinham longos trechos de areia que serviam de passagem, inclusive cruzando rios de vários tamanhos, fundindo o traçado da estrada Bertioga a São Sebastião num misto de areia e terra, com a pista que corria mais para dentro.
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As pontes eram de madeira, a maioria precária, sem grades laterais. E as subidas dos morros que separavam as praias podiam se tornar sabonetes, que complicavam a viagem, se tivesse chovido um dia antes.
O dia estava glorioso! O céu azul, o sol brilhando e o ar bem quente. No carro, com os vidros abertos, íamos a Kitty, o Mando e eu. Em cima da capota, presas no rack cor de laranja, duas pranchas de surf indicavam o que queríamos fazer. Apesar da Barra do Sahy não ser famosa pelas ondas, a praia é gostosa e dá para brincar com as pranchas correndo nelas.
Em 1971 era mais gostoso ainda, o litoral era quase deserto. As praias eram de quem se aventurava e as casas ao longo da costa invariavelmente eram de algum amigo ou conhecido.
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Não me lembro do grosso da viagem, mas quando atravessamos a ponte sobre o rio Una e começamos a subir o morro que separa a Barra do Una da praia do Juquehy a coisa mudou.
O Joãozinho, o gravador de carretel construído pelo Mando, que dava um som fantástico para o Verdinho, tocava “Atom Heart Mother”, o disco das vaquinhas do Pink Floyd. Quando chegamos no alto do morro, a paisagem explodiu diante de nós. O céu, o sol, o mar e a praia do Una nos deram uma ideia da visão de Deus, quando descansou no sétimo dia da criação.
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