O Peabiru
Ao contrário do que os livros de escola ensinam, o caminho entre o litoral e o planalto de Piratininga, quando da chegada de Martim Afonso de Souza não era uma pirambeira íngreme.
Aliás, depois dele, Nóbrega também subiu a serra sem fazer tanta força assim. Pelo contrário, as pirambeiras eram cortadas por uma estrada, segundo os relatos da época, pelo menos tão boa quanto as melhores da Europa, no século 16.
Essa estrada misteriosa e quase desconhecida dos brasileiros de hoje, não se confundia com os caminhos dos índios, que também cortavam o território brasileiro, ligando todos os cantos do país através de um sistema muito mais sofisticado do que nos dizem os livros aprovados pelo ministério da Educação.
Tupis e Guaranis se comunicavam, negociavam, trocavam de lugar, guerreavam, se detestavam e se amavam, como quaisquer outros povos vizinhos em qualquer época da história da humanidade.
Para isso se valiam das estradas construídas pelos incas que nunca chegaram a usa-las, e dos caminhos muito mais simples abertos por eles mesmos, unindo o vasto território sul-americano, desde o litoral paulista, como um dos centros principais, até Assunção, onde a estrada inca se juntava ao caminho real que acabava em Cusco, sede do grande império que dominava a costa do Pacífico, mas que não chegou ao Atlântico.
O nome da estrada que saia de São Vicente e se estendia até Assunção era Peabiru. Ela era o eixo principal onde se unia uma longa rede de estradas vicinais que se estendiam como uma enorme espinha de peixe, cruzando o centro da América do Sul, para ligá-lo aos Andes.
São Paulo nasceu às suas margens, para proteger São Vicente.
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