A cidade sem fim
São Paulo tem uma das maiores áreas urbanas do mundo, por isso, tanto faz para que lado você olhe, a cidade parece sempre interminável.
Essa sensação fica mais clara quando a cidade é vista de cima. Há pouca coisa mais impressionante e mais bonita do que São Paulo vista do ar, de noite, quando o avião baixa para pousar. É um universo de luzes de todos os tipos e intensidades, com as mais fracas nas bordas e as mais fortes nos estádios de futebol ou no Jóquei Clube, que fica bem embaixo da rota de chegada para pousar em Congonhas.
Nessa mancha de luz que de tão brilhante pode ser vista do espaço, as grandes avenidas com seu traçado balizado pelas lâmpadas mais fortes, surgem como enormes cicatrizes, marcas das lutas intensas para ocupar o lugar e a cidade crescer.
São como as lembranças que o tempo não consegue esconder e fazem uma homenagem para as lembranças verdadeiras, para um passado que a cada 30 anos não existe mais, devorado pela sede e pela pressa impressionante desse corpo desproporcional que se espalha sempre, dia depois de dia, até contra a vontade dos homens, sempre para mais longe, sempre para todos os lados, num movimento que começa pequeno e em pouco tempo se transforma em grandes edifícios, em bairros novos, em ocupações clandestinas, em condomínios, em praças, em novas cicatrizes na paisagem.
São Paulo não para mesmo sabendo que precisa parar. É mais forte do que ela, e o atavismo desse crescimento desordenado encontra sua origem na antiga aventura de sair de uma pequena vila no alto de um planalto, para entrar sertão adentro, arrancar das sombras das matas o brilho de mil Eldorados e voltar, com o traçado de novos roteiros.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.