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Os aviões começam a voltar

Durante o último ano e meio, o silêncio foi a marca registrada de boa parte da cidade, por onde os aviões passam por cima, voando nos corredores de decolagem e pouso do aeroporto de Congonhas.

Congonhas era longe da cidade. Faz tempo, quando o aeroporto foi construído, em volta era praticamente deserto. Ficava na área rural do município e por isso o barulho dos aviões não incomodava a cidade, restringindo seu barulho aos ouvidos dos poucos moradores dos sítios e chácaras em volta.

Mas as benfeitorias do aeroporto e o preço barato dos terrenos puxaram a cidade para o seu entorno e hoje há uma guerra surda entre os moradores da região e os aviões que pousam e decolam com intervalo na casa dos poucos minutos.

Com a pandemia, o aeroporto esvaziou. Os aviões ficaram no solo, as companhias aéreas amargaram prejuízos gigantescos, que quebraram dezenas delas ao redor do mundo, e a cidade conheceu as maravilhas do silêncio das turbinas alucinadas, levantando os grandes jatos do chão.

Aos poucos, os aviões foram voltando, mas um aqui, outro bem depois, sem pressa, como se não houvesse horário marcado e a velocidade alucinada da época pré-pandemia estivesse enterrada num passado distante e que não voltaria nunca mais.

Mas nem sempre o final dos contos de fada é o que mais agrada quem gosta da paz, do canto dos sabiás e do escarcéu das maritacas.

Como quem não quer nada, os aviões estão retomando o ritmo antigo, aumentando a frequência dos voos, das decolagens e dos pousos, com suas turbinas urrando em cima de nossas cabeças, com a sem cerimônia dos antigos dinossauros abrindo caminho na mata. A diferença é que os dinossauros passaram, mas os aviões estão voltando para ficar.

 

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.