Parque do Por do Sol
Aviões avoam, navios navegam e carros batem nos postes. A regra é essa, mas as exceções se multiplicam e, de tanto se multiplicarem, parecem a regra. A cidade grande é impiedosa. Não há talvez, nem quem sabe. É como é e cada um que cuide de si porque, entre secos e molhados, como escreveu o grande filósofo William Scott Pitt, “você pra mim é problema seu”.
A praça ficou fechada com tapumes, meses e meses. A razão foi simples: as pessoas se amontoavam em suas encostas para ver o por do sol. Nada mais na contramão da saúde. Por isso, a Prefeitura, com toda a razão, cercou a praça e fechou suas entradas, na tentativa de minimizar o risco de contágio do coronavírus.
Agora, a praça reabre e vem com novidade. Foi promovida. Não é mais uma simples praça onde os paulistanos há décadas se sentam para ver o por do sol mais bonito da cidade.
A praça ressurge transformada, ou promovida a parque. Parque do Por do Sol soa bonito, mas altera a geografia da cidade, quebra os marcos fundantes pelos quais nos localizamos, pelos quais medimos nossa existência e nos damos conta de seguimos vivos.
Me rebelei quando a Praça Buenos Aires foi promovida a parque. Ela não tem tamanho para ser parque, mas foi promovida, quem sabe para, na época, prestar uma homenagem a um argentino próximo das lideranças municipais.
Agora a Praça do Por do Sol também passa pela promoção, sem que tenha acontecido nada para isso, exceto estar cercada por uma tela de arame. Apesar da simpatia pelo nome, não vejo razão para a mudança. Afinal a praça não fez escola de comando, nem aumentou de tamanho. É a mesma velha e simpática praça do Por do Sol. Então vamos aplicar as eventuais vantagens legais, mas deixá-la com o nome de sempre.
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