As modas vão e voltam
Quando eu era menino, cortava o cabelo no Clube Harmonia. O barbeiro era o Jesus, um espanhol que metia a máquina na minha cabeça, num corte chamado meio americano.
O meio americano perto do americano que alguns primos eram obrigados a usar era um avanço impressionante. Enquanto no americano ficava apenas um topetinho parecido com o do Tintim, o meio americano deixava mais cabelo, estendendo a faixa peluda para os lados e para trás.
Eu não gostava do corte e não entendia porque meus pais não me deixavam usar cabelo mais comprido, como outros primos usavam.
O resultado dessa matemática tinha o dom de me deixar com as orelhas de fora e eu não gostava das minhas orelhas. Então, assim que ganhei alguma autonomia de vontade, deixei o cabelo crescer e tapar as orelhas. E usei assim, às vezes mais comprido, às vezes mais curto, sempre com as orelhas cobertas, até poucos anos atrás.
O curioso no processo é que atualmente deixo as orelhas descobertas e uso o cabelo bem mais curto, mas nada que se compare com o bom e velho meio americano.
Mas o mundo gira e a vida roda e, depois dos cabelos longos que tomaram a moda de assalto após os anos 60, a moda do cabelo curto está de volta. E o meio americano impera triunfal, com adaptações tecnológicas impressionantes, mas que não escondem a origem do corte.
Tem meio americano com cachinhos, sem cachinhos com curvas de nível, entradas, saídas, duas cores, três cores, penduricalhos de todos os tipos, etc. Tanto faz. De verdade, de verdade, é a volta ao final dos anos 50, começo dos anos 60. É o império do corte meio americano.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.