Vida de cachorro está muito chata
Ah, a felicidade dos cachorros de antigamente, que comiam de tudo, com a comida feita na hora e dada pelos donos.
Foi-se o tempo em que um cachorro podia comer queijo à vontade. Ou macarronada, depois do almoço de domingo. Que alegria comer um pedaço de picanha com bastante gordura, durante um churrasco. Ou uma costeletinha de porco…
Não, agora não dá mais. Os cachorros foram condenados a comerem como gente que faz regime. Ou, pior, uma raçãozinha com gosto de chuchu com molho de soja, apesar de serem animais de presa.
Cachorro, hoje, não pode correr atrás de gato, nem pegar rato, nem pular tentando alcançar um sabiá em pleno voo.
Passou a ser politicamente incorreto e cachorro fino é politicamente correto. Não se porta mal, não faz cocô no canteiro do vizinho, não morde o cachorro do outro lado da rua, não foge de casa, desembestado pelo bairro.
Cachorro moderno vai ao veterinário duas vezes por ano para fazer exames de rotina. Além das vacinas de praxe, toma mais uma penca de remédios. Vários frequentam psicólogos e outros têm coleiras com o nome gravado em placas de ouro e pedras preciosas.
Dormem na cama dos donos e, como eu já vi acontecer, atacam os maridos que querem importunar as mulheres quando elas não querem ser importunadas. A coisa chega ao ponto do marido ser colocado para fora do quarto pelo cachorro protegendo a esposa.
Mas será que isso tudo vale uma boa corrida pelo quintal? Uma fugidinha pelas ruas do bairro? Uma boa briga com o cachorro do vizinho?
Pois é… Já tem cachorro se convencendo que bom, mas bom mesmo, era antigamente, quando o almoço era coração de boi e arroz feito na hora. Quando cachorro era cachorro e gente era gente.