Do lado do bem
Eu não tenho dúvida: os ipês, as tipuanas, os jacarandás mimosos, as sibipirunas, as paineiras, as patas de vaca, as azaleias, as quaresmeiras, as flores sem nome, enfim, todo o mundo vegetal que vive em São Paulo é do bem, está do lado dos que querem um mundo melhor e mais justo, mais belo e mais amigo para todos.
Da mesma forma, as aves de todos os tipos e tamanhos, coloridas ou não, que voam pelos céus da cidade, também estão do lado do bem. Acreditam que a missão dos seres vivos é ajudar Ormuz a vencer Arimã, para, no final dos tempos, entregar para a eternidade um planeta melhor.
A vida é pródiga em milagres cotidianos que se multiplicam nos detalhes de cada enredo, na realidade de cada um, para fazer da aventura terrestre uma caminhada maravilhosa, com chuva na hora da chuva, pôr do sol nos finais de tarde e lua cheia uma vez por mês.
Cabe a nós, seres humanos, aceitarmos que é assim. Cabe a nós olharmos as plantas e os animais e fazermos como eles fazem, vivermos naturalmente, um dia depois do outro, lutando pelo pão nosso de cada dia de forma honesta, íntegra, levando em conta os padrões morais que nos diferenciam das bestas feras, dos selvagens, dos homens maus que existem, infelizmente existem, e tentam tomar conta da terra.
No mundo de hoje não há terceira via. Ou se está do lado do bem ou não se está. Não tem como ficar em cima do muro, fazer que vai e não ir.
A vida é bela demais para dar espaço para quem quer levar vantagem em cima de todos. Cada um de nós tem sua cota, seu rumo e sua estrada. Umas são mais largas, outras mais íngremes, outras têm árvores que dão sombra, outras cortam desertos. Eu não sei porque é assim. Também não sei se deveria saber, acho que não. O importante é escolher o lado, ficar do lado do bem e fazer da melhor forma possível o que nos for dado fazer.