Vila Madalena
A Vila Madalena mudou muito ao longo dos últimos 20 anos. Como eu sei? É meu caminho da roça praticamente todos os dias, de manhã e de tarde, faz mais tempo do que isso.
As mudanças poderiam se limitar ao novo perfil do bairro. De residência privilegiada para moradores de casinhas com cara de cidade do interior, com cadeiras na varanda, onde as pessoas se sentavam para bater papo, o bairro evoluiu para bairro boêmio, centro de curtição, festas, carnaval e o mais que vai na contramão da vida dos antigos moradores.
Essa é a parte que se vê, mas há outra, mais escondida, que também interfere na rotina da região.
Em vez das antigas oficinas mecânicas, lava-jatos, oficinas de costura, alfaiates, barbeiros e outros comércios e serviços de bairro, a Vila Madalena, hoje, tem comércio chique, com lojas transadas.
O ritmo da vida não é mais o mesmo. As pessoas não se cumprimentam como velhas amigas que participam da vida da comunidade. No máximo, agora, são conhecidas.
Mas o que realmente piorou foi o trânsito. Atravessar a Vila Madalena se transformou em lição de paciência.
Depois de décadas servindo para os conhecedores das quebradas cortarem caminho entre o centro e a zona oeste, as ruas da Vila estão atulhadas, não comportam o número de carros e os ônibus de turismo que invadem o pedaço com a sem cerimônia de quem se acha dono da rua ou amigo do prefeito.
Não, a crônica não é uma tentativa de resgate do passado. Não quero voltar para 20 anos atrás, nem nada de parecido.
Só quero mostrar como São Paulo toca em frente, independentemente de planejamento ou ação afirmativa. A Vila, hoje, é o presente. Pode ser que amanhã mude de novo.