Verdinho e o Joãozinho
Meu primeiro carro foi um Opala Especia, 2500, ano 1971, chamado Verdinho. Tinha 4 cilindros e era “verde amazonas” e com o estofamento xadrez. Isso mesmo, o estofamento era xadrez com o desenho grande e meio esverdeado para combinar com o verde intenso da carroceria.
Seria um carro normal, não fosse um detalhe: ele tinha um toca-fitas de carretel. Pouca gente vai se lembrar o que era isso. Se os cassetes estão esquecidos, imagine os gravadores de carretéis. Pois ele tinha um, o Joãozinho, montado pelo meu primo Mando, usando as peças de um gravador Phillips de carretel de 4 polegadas e a cabeça de um toca fitas Muntz para o som ficar estéreo.
O Joãozinho podia ser retirado do carro e instalado em qualquer lugar, ligado na rede elétrica, com duas caixas de som.
Descer a Via Anchieta trocando a fita do Joãozinho era uma aventura interessante, dificilmente aceitável nos dias de hoje. Mas, na época, era o máximo. É que as coisas mudaram. Em 1971 não tinha Rio/Santos. Para se ir do Guarujá para São Sebastião, a viagem era pelas praias, cruzando os vários rios do caminho por dentro d’água ou em pontes de madeira bastante precárias. Os trechos em que a estrada se afastava do mar eram de terra e subir e descer os morros que separam as praias podia ser muito complicado.
Boa parte das praias era quase deserta o que dava uma enorme liberdade para quem se aventurava por elas. E isso era muito bom, ainda mais quando o Verdinho ficava parado, com as portas abertas e o som do Joãozinho competia com o barulho do mar.
Não sei se os carros de hoje fazem o que meu primeiro Opala fazia. Em 2 anos, rodei mais de 80 mil quilômetros. Subi e desci o Brasil em todos os tipos de estradas, sem qualquer problema com o carro. O Verdinho foi um grande carro e o Joãozinho, um grande toca fitas.