Os Sabiás
Todos os anos, no final do inverno, eles começam a cantar nas madrugadas escuras. A sensação que passam é que a cada ano começam a cantar mais cedo, no tempo e na hora da noite.
Os sabiás estão aí, de novo enfeitando as madrugadas com seu canto que tem como razão de ser atrair as fêmeas e preservar a espécie.
Mas não são todos os sabiás que invadem as madrugadas paulistanas, piando um mais alto do que o outro, na luta brava para conseguir chamar a atenção de uma fêmea.
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Eu não entendo nada da vida dos pássaros, não sou ornitólogo, nem tenho binóculos para ficar observando a vida das aves soltas na natureza.
Então, o que eu acho é simples achismo, baseado apenas na sensação de que é ou não é, seja lá pela razão que me faz achar que é.
O fato é que ano após ano eu tenho a sensação de que os sabiás laranjeira estão cada vez começando mais cedo.
Porque os sabiás que enchem as madrugadas da cidade são sabiás laranjeira, os mais comuns, os que têm o peito cor de laranja e vivem em todas as partes com a tranquilidade de quem está nas matas fechadas, mas, de verdade, está comendo e tomando banho nas tigelas dos cachorros.
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Pode parecer incrível, mas a vida na cidade é muito mais fácil do que a vida na natureza. Os sabiás sabem disso e agradecem, como as rolinhas, os bem-te-vis e os gaviões, que encontram comida furando os sacos de lixo espalhados pela Cidade Universitária.
A cantoria da madrugada vai durar ainda um bom tempo. O tempo dos sabiás acasalarem e construírem seus ninhos nas árvores espalhadas pelos jardins. O ciclo da vida é maravilhoso. Tem o mistério e o espanto das razões que nós não entendemos. Por que dois sabiás se escolhem? Por que duas pessoas se escolhem?
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.